ANTÔNIO DE BORBA FAGUNDES (1758-1839) - FUNDADOR DE TIROS/MG.

Antônio de Borba Fagundes, imagem gerada por Inteligência Artificial. 

Antônio de Borba Fagundes (Passatempo/MG, 1758 - Santo Antônio dos Tiros/MG, 1839) foi o primeiro proprietário da fazenda chamada “dos Tiros”, às margens do córrego de mesmo nome entre os rios Borrachudo e Abaeté. Deste lugar viu nascer o arraial no entorno da capela que construiu em honra à Santo Antônio de Pádua.  Muitas imprecisões foram registradas sobre sua vida ao longo dos anos, aos quais este artigo procura esclarecer. 

Origens: 

Antônio nasceu e foi batizado na Capela de Nossa Senhora das Necessidades do Passatempo, termo da Vila de São José (atual cidade de Passatempo-MG). era filho legítimo de Antônio de Borba Fagundes e Valentina Angélica de Jesus. Seu pai parece ter nascido em Congonhas do Campo-MG e foi sepultado na Capela de N.S do Desterro, filial da Matriz de São Bento do Tamanduá (atual Itapecerica-MG) em 1801. Teve ao menos uma irmã chamada Jacinta Angélica de Jesus. Existe uma tradição oral de que seria descendente de Borba Gato. Apesar de possível, esse parentesco carece de prova documental e não pôde ser comprovado até o presente estudo.  

As localidades de Passatempo e Japão foram onde se estabeleceram os primeiros habitantes de Oliveira-MG, entre os anos de 1700 e 1734. Tendo inclusive em 1734, Manoel Pacheco Barroso, solicitado uma Sesmaria na região do Mato de Passatempo,  alegando ter penetrado até as cabeceiras do Rio Pará, e possuindo ali casa de morada e plantações.

Casamento: 

Antônio casou-se com Dona Ana Joaquina de Jesus (? -  Santo Antônio do Monte, 1807) filha legítima do Tenente Thomé Francisco de Carvalho e Dona Joaquina Mariana de Jesus. Desse matrimônio tiveram doze filhos. O casal viveu por muitos anos no distrito de Santo Antônio do Monte-MG até que sua esposa Ana Joaquina faleceu em 30/01/1807.  

Anos depois casou-se uma segunda vez com Dona Anna Vitória de Oliveira (Bom Sucesso/MG 1788 - Indianápolis/MG 1864) batizada na capela do Bom Sucesso filial da matriz de São João del Rei/MG) filha de Antônio Barbosa de Oliveira e Rita Francisca de Jesus. 

Transferência para a região do Ribeirão dos Tiros: 

Até 1810 sabemos com certeza que permaneceu vivendo em Santo Antônio do Monte/MG, pois aparece ali em um censo com o título de sargento de uma tropa auxiliar de ordenança. Entre 1810 e 1812 foi o período que os Borba Fagundes transferiram-se para a região do Ribeirão dos Tiros, na época freguesia de Dores do Indaiá/MG. O registro mais antigo é de 14 de Novembro de 1812 quando David José Pereira casa com uma filha de Antônio chamada Joaquina Maria na Igreja Matriz de Dores do Indaiá/MG, sendo esse o registro mais antigo dos Borba na região. As testemunhas foram Jesuíno José de Borba e João Vieira dos Santos. No ano seguinte Antônio aparece como testemunha de um casamento também em Dores. 

Em junho de 1817 casaram-se em Dores do Indaiá/MG outros de seus filhos como Emerenciana, José Pedro e Joana Angélica, todos celebrados pelo pároco Padre Henrique Brandão de Macedo. 

O estabelecimento da fazenda dos Tiros: 

Em um contexto onde as vastas terras na margem direita do Rio Abaeté recebiam cada vez mais colonos após a extinção das guardas militares, Antônio Borba Fagundes prosperou na sua fazenda dos Tiros. Não encontramos nenhuma carta de sesmaria em seu nome, portanto é muito provável que Borba tenha sido um posseiro pois os livros de sesmarias estão todos preservados no Arquivo Público Mineiro. Além disso, o processo de cessão de terras por sesmarias chegou ao fim em 1822. Interessante é o que se lê à página 89 do processo de Divisão da Fazenda dos Tiros, arrolado em 02/05/1889: 

"que a fazenda a demarcar-se vem de sua origem de sesmaria concedida (..) para a família Borba”. 

Provavelmente esse trecho esteja se referindo ao registro de Terras da Lei de 1850 que regularizou os antigos posseiros e não ao antigo regime de sesmarias. 

A construção da Capela de Santo Antônio: 

Com o adensamento populacional, os habitantes ficavam a uma distância incômoda de seu pároco, pois teriam que ir até Dores do Indaiá-MG para assistir a Santa Missa, batizar suas crianças e celebrar o matrimônio, exceto esporadicamente quando algum cura portando um altar-portátil passava pelas fazendas. Vendo seus vizinhos engrossarem em número e sentindo-se impelido pela responsabilidade de ter sido o pioneiro e um dos mais abastados da região, Antônio de Borba Fagundes inicia a construção, certamente com auxílio de alguns vizinhos, de uma capela simples para oferecer o devido culto a Deus. 

Para a dedicação da capela escolheu o seu onomástico e santo de devoção: Antônio. Afinal, seu pai, ele próprio e o seu primogênito traziam esse nome em memória do taumaturgo de Lisboa, ortodoxo na defesa da fé e um grande instrumento de Deus para a conversão dos homens. Com o início das obras da capela estava dado o pontapé inicial para a formação do arraial. Seguindo a tradição mineira, a capela além da função religiosa adquire função social propiciando encontros, negócios, e já ficou demonstrado que 90% das cidades mineiras surgiram em torno de uma capela. Como vemos na divisão de Terras de 1889, Antônio doou então uma porção de terra para o “Patrimônio de Santo Antônio”. O Santo Antônio da Fazenda dos Tiros! Santo Antônio dos Tiros! Feita a capela, surgiram logo ao redor as primeiras casas e assim ficou selado o nome do arraial. É de 1829 o registro mais antigo que encontramos da Capela, sendo da realização do casamento entre Bernardo Ferraz de Araújo e Antônia Maria de Jesus, pelo vigário de Bambuí. As testemunhas foram o próprio Antônio de Borba Fagundes e seu genro Davi José Pereira. 

Outro interessante documento assinado pelo primeiro juiz de paz Antônio de Morais Pessoa,  é datado de 28/08/1836 respondendo ao ofício do governador da província em que faz uma relação dos únicos 03 engenhos que fabricavam aguardente, e de uma casa de negócio. Diz ainda que não havia ali nenhuma outra casa de negócio e que a maior povoação do local era o próprio Arraial dos Tiros, que tinha na época apenas 08 casas habitadas. A maior parte da população vivia nas propriedades rurais próximas. 

Vale a pena trazer a relação desses engenhos do distrito, todos puxados por bois: 

O maior deles do Capitão José Rodrigues Alves, de Fábrica suficiente na Fazenda do Bom-sucesso. Outro de Antônio de Borba Fagundes de Fábrica mediana = na Fazenda dos Tiros e por fim o de Valentim Alves Ferreira de Fabrica pequena também na Fazenda dos  Tiros. 

Entre esses moradores está também Ana de Oliveira, viúva de Antônio de Borba Fagundes. Borba deixou um interessante testamento feito na Fazenda dos Tiros dois anos antes de morrer. Enquanto narrava para que o Padre Antônio Joaquim Ribeiro escrevesse diz:

“Declaro que o meu testamenteiro dará doze mil réis para a fatura de uma imagem de Santo Antônio para a capela dos Tiros e doze mil réis para as obras da mesma Capela”

Falecimento: 

Falecido em 10 de julho de 1839, o abnegado fundador demonstrou em seu último ato público, a estima que tinha pelo arraial. Foi sepultado dentro da Capela de Santo Antônio dos Tiros, envolto em hábito de São Francisco como pedira em testamento e solenemente acompanhado pelo reverendo Padre Manoel Antônio da Silva, seu amigo. O estudo de seu inventário, permite afirmar que era provavelmente um dos mais abastados residentes no local. Possuía gado vaccum, 15 escravizados, casas do engenho, 400 alqueires de cultura, 1625 alqueires de campos, 5 alqueires de milho plantados, 1 carro de algodão plantado e 10 carros de milho. Na sociedade com Antônio Alves consta uma tenda de ferreiro com fole, bigorna, martinho e forno. Além da casa de vivenda com diversas mobílias, itens de cobre, ferro, alguns objetos de ouro e imagens sacras com um oratório. Curiosamente, também possuía em sua casa uma “panela de gentio” ou seja, um vasilhame indígena, rastro dos primeiros habitantes da região. Uma das partes mais ativas no inventário foi seu genro Capitão Davi José Pereira que havia sido inspetor do 3º Quarteirão em Tiros, mas desde 1837 transferiu-se para a região do ribeirão Marmelada sendo um dos três fundadores da cidade de Abaeté-MG e importante político liberal naquela cidade. 

Descendência: 

do 1º matrimônio: 

Antônio de Borba Fagundes, faleceu solteiro

Anna Joaquina de Jesus, casada com José Vieira Brabo

Jacinta Angélica de Jesus casada com João da Costa Melo 

Maria Joaquina de Borba casada com Antônio Barbosa de Oliveira 

Francisca Angélica de Jesus casada com João Vieira dos Santos 

Manoel de Borba Fagundes casado com Maria Barbosa de Oliveira 

José Pedro de Borba casado com Gertrudes Francisco de Jesus 

Joaquina Mariana de Jesus casada com o Capitão David José Pereira, dono da fazenda do Saco Redondo que juntamente com outros 2 fazendeiros fundaram o arraial novo de Nossa Senhora do Patrocínio da Marmelada de Olhos-d’Água (atual Abaeté-MG) em 1842

Emerenciana Angélica de Jesus casada com Manuel Barbosa de Oliveira 

Joanna Angélica de Jesus casada com Estulano Ferreira dos Santos

Valentina Angélica de Jesus casada com Francisco Pereira dos Reis 

Jacinto José de Borba casado com Ana Jacinta de Jesus 


do 2º matrimônio: 

Francisco Antônio de Borba casado com Máxima Vieira de Borba 

Jesuíno Antônio de Borba casado com Máxima Vieira de Borba 

Pedro Antônio de Borba casado com Ana Apolinária do Sacramento 

Claudina Vitória de Oliveira casada com Antônio Alves de Souza e Silva

Tenente João Antônio de Borba casado com Ana Joaquina Bitencourt

Zeferino Antônio de Borba casado com Maria Luíza da Cunha 

Germana Maria da Conceição, casada com Davi Vieira dos Santos


Fontes: 

APM SG-CX.124-DOC.02 FONTES LISTA NOMINAL DAS PESSOAS DO DISTRITO DA CAPELA DE SANTO ANTÔNIO DO MONTE, TERMO DE SÃO BENTO DO TAMANDUÁ. 

LIVRO DE BATISMOS DA CAPELA DE SANTO ANTÔNIO DO MONTE 

LIVRO DE MATRIMÔNIOS DE DORES DO INDAIÁ. 

INVENTÁRIOS COARPE- ABAETÉ/MG


Comentários

  1. Excelente texto. Além de bem escrito, é um deleite aos olhos de quem gosta de história. Gostaria de lhe fazer uma pergunta. Sou genealogista por hobby e, ao pesquisar nos livros de Dores do Indaiá, encontrei o casamento de meus pentavós, em 1851, celebrado em Santo Antônio dos Tiros. O noivo se chamada Joaquim Antônio de Oliveira e a noiva, Rita Maria de Jesus. Segundo o assento de matrimonio, os pais da segunda seriam Antônio de Borba Fagundes e Maria Luísa de Andrade. Vc saberia me dizer o parentesco desse meu antepassado com o personagem do seu texto?

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