PEDRO MARQUES FILHO - SÉRIE FUNDADORES DO CEDRO
Pedro Marques Filho, Dona Enedina e um neto Franciscano.
Pedro Marques Filho nasceu no ano de 1899 provavelmente em Dores do Indaiá. Filho de Pedro Marques da Costa (nascido em 1872) e Maria Custódia Damasceno (nascida em 1877). Mudou-se para a região das terras "Comum de Sant'Anna" na margem direita do Indaiá aproximadamente nos meados da década de 20. Ali foi proprietário das fazendas Santa Clara e Drumond.
O Comum de Santa Ana e as fazendas.
O "Comum" como era chamada, foi uma enorme gleba formada por terras devolutas, consideradas "terra de ninguém". Suas origens e nome remotam ao Quartel de Santa Ana e à fazenda Santa Ana, propriedade do oficial da Cavalaria Regular de Minas, o Major José de Deus Lopes (1753-1839), sogro do barão do Indaiá e um dos desbravadores destas terras.
Miguel Braga e José (Zé) Braga
Os tios paternos de Pedro Marques Filho chamados Miguel Rodrigues Braga e José Rodrigues Braga já vivam nesta região e provavelmente foram fundamentais na vinda do sobrinho. Pouco se sabe destes personagens, porém é fato que havia suas propriedades nessas paragens. A de Miguel era próxima da Fazenda do Zinco.
Miguel Braga aparece como testemunha neste matrimônio celebrado na "C [capela] de Cedro" em 1938. Fazendas
Ao chegar na regiao Sr. Pedro Marques comprou a fazenda Santa Clara da senhora Policena e do senhor José de Souza. Foi então proprietário das fazendas Santa Clara e da fazenda Drumond. A origem do nome Santa Clara está relacionada à devoção da família à esta santa franciscana. A fazenda ficava na margem direita da estrada em direção ao Rio Indaiá. A sede não existe mais e era um casarão com esteios de aroeira e assoalho de tábuas. Já a Drumond, segundo relatos, foi porque havia um tal "Drummond" que andava por aquelas bandas quando aindam eram terras devolutas. A propriedade ficava na margem esquerda da estrada sentido ao Rio Indaiá, onde ainda hoje é possível ver algumas mangueiras plantadas na década de 50 por um dos filhos de Pedro Marques (Sr. Manoel Marques).
Um dos bancos da praça Matriz, construídos na década de 70, oferecidos pela Fazenda Drumond, da família Marques.
Mangueiras da antiga fazenda Drumond. Na esquerda, ao fundo, o Pedra Menina.
Economia:
Foram as fazendas mais antigas e importantes na formação da cidade. Nelas viviam vários agregados, cuidando do gado, dos pés de café, fumo e feijão, da sua olaria de tijolos e telhas nos fundos da Santa Clara, das plantações de milho e do grande paiol, das boiadas e carros de boi. Era Pedro Marques o maior fornecedor de lenha para o entorno e principalmente quando começou a se formar a vila de Cedro próximo à venda do Sr. José Gonçalves Filho. Na olaria se organizavam pilhas de até 500 tijolos e telhas, que eram transportados para a Vila em carros de boi. Para pessoas que não tinham condições de pagar, ele realizava generosas doações.
Fazenda Santa Clara, destacada em verde. Mapa de 1922. Notar a linha vermelha que liga Abaeté à Fazenda, era o antigo caminho feito pelos tropeiros.
Prospecções Geológicas:
No ano de 1969, o grande geólogo Eduardo Ladeira acompanhado de Emmanuel Dutra Leal realizou prospecção na fazenda Santa Clara sendo descoberto uma jazida de fosforita no local.
Mapa geológico da Fazenda Santa Clara - 1969 - Por Eduardo Ladeira.
Fotografia da fazenda Santa Clara em 1969, demonstrando excavações geológicas com exposição de material constituído por uma mistura de siltito verde ("verdete") e fosforita esverdeada.
Vida pessoal:
Casou-se a primeira vez com Isolina Maria de Jesus tendo com ela doze filhos. Pedro ficou viúvo posteriormente e casou-se com Enedina, da família Pacheco, que ficara viúva em Goiás. Desta união não teve filhos. Enedina era famosa no Cedro por fazer roscas e outras quitandas de incomparável sabor. O casal se dirigia até a cidade todos os domingos para assistir a celebração da Santa Missa em sua charrete com toldo, que nas crianças despertava curiosidade.
Pela sua capacidade de conciliação, Pedro era frequentemente solicitado para apaziguar conflitos sendo nomeado juiz de paz. A população local o tinha como um delegado.
Neste casamento em 1941, Pedro Marques Filho é testemunha ao lado de Pedro Ribeiro de Andrade (Pedro Inácio).
As Festas Juninas:
Na fazenda Santa Clara todos os anos se celebravam as festas juninas. A tradição iniciou-se com uma promessa que Pedro fez a São João Batista, em agradecimento pela cura de um filho seu, homônimo do santo. Na festa havia as quitandas de Dona Enedina, uma grande fogueira e a oração do Terço que Pedro sempre conduzia.
Religião:
Os dois primeiros filhos de Pedro Marques foram batizados debaixo de uma frondosa mangueira onde ficava o antigo cemitério (atual Copasa). O cemitério foi bento em 1927, como está nos relatórios da Diocese. Logo depois se construiu em Cedro uma capelinha que foi anos depois substituída pela atual Matriz. Pedro foi um católico fiel, viveu uma vida de intimidade com Jesus e tinha grande devoção por Santa Clara e São Sebastião. Seu papel foi fundamental para o início das atividades da Sociedade de São Vicente de Paulo em Cedro, sendo presidente e tendo doado o material de construção para a Capela Vicentina na cidade. Os Vicentinos foram por anos a única instituição de caridade e assistência social na cidade. Todos os Domingos os confrades se reuniam na capela para a reunião. Havia as cadernetas para a esmola de São Vicente e a população ajudava no que podia.
Ele também manifestava grande amor pelo Rosário e pela Eucaristia, sendo ministro extraordinário da Sagrada Comunhão e se mobilizado para a construção da atual Igreja Matriz.
Capela da Vila Vicentina, construção provavelmente da década de 40.
Interior da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, pouco após sua inauguração.
Falecimento:
Com a doença que o acometeu nos últimos anos acabou indo morar com uma de suas filhas em Contagem-MG. Em um Domingo, após fazer sua refeição, pediu a sua filha que lhe trouxesse um Crucifixo. Colocou-o sobre o peito e exclamou com serenidade:
- Jesus está me chamando! Deus está me chamando!
Logo apos fechou os olhos e expirou. Pedro Marques faleceu em 1989. Está sepultado no Cemitério da Paz em Belo Horizonte.
Descendência:
Filhos com Isolina:
Rafael Marques
José Marques
Ildefonso Marques
Casimiro Marques
Manoel Marques
João Batista Marques
Alcides Marques
Raimundo Marques
Marta Marques
Maria Marques
Albertina Marques
Marcolina Marques
Regina Marques
Legado:
Pedro Marques merece ser lembrado pelo grande homem que foi. Cristão exemplar, caridoso e fiel ao seus valores. Deixou um forte legado para a cidade pois participou ativamente desde antes da sua fundação até a emancipação política, como empregador e produtor rural, na doação de materiais de construção para as casas e Igrejas, na doação do terrreno para o cemitério atual entre outras contribuições. Foi talvez o cidadão que mais acompanhou a evolução histórica de Cedro do Abaeté. Foi homenageado com o nome de uma rua na cidade.
Fontes:
- Entrevista com senhor Manoel Marques.
- Entrevista com o Dr. Eduardo Ladeira.
- Relatos na página "História de Cedro do Abaeté".
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