A FAMÍLIA BORGES E A FAMÍLIA REZENDE - HISTÓRIA DO BAIXADÃO/TRÊS MORROS EM CEDRO DO ABAETÉ



Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) em Carmo da Mata. S.D. (6)

Zacharias José de Resende (1865 - 1952), chamado de "Benzinho" foi um grande proprietário rural em Carmo de Mata/Oliveira - MG e Dores do Indaiá. No censo de produtores rurais de 1920, eram suas as fazendas "Fortaleza" em Oliveira (ao lado de seu irmão Franklin José de Resende), bem como a fazenda "Três Lagoas" em Itapecerica. Nos anos 30 adquiriu a fazenda Baixadão ou Três Morros, atualmente em Cedro do Abaeté, iniciando uma das mais importantes levas de povoamento de carmenses para a região, entre eles a numerosa família Borges.

Filiação:

Filho do Tenente Balduino Bernardes Pacheco e de Francelina Cândida do Amaral Rezende, Zacarias nasceu em Carmo da Mata em 1865. (1) Casou-se com Ana Cândida do Amaral (Vó Sinhana) em 1894. (1)








A compra da fazenda Baixadão:

Ignácio Ribeiro de Andrade (Inácio do Brejão), nascido em Oliveira, após uma temporada em Dores do Indaiá, transferiu-se para os Três Morros. Logo após, contraiu uma dívida com um dos genros do senhor Zacarias Resende. Para isso, hipotecou por 20 contos de réis uma propriedade de 238 alqueires que havia adquirido, não fazia muito tempo, da família Diniz, próxima ao povoado de Quartel de S. João, chamada 3 Morros ou Baixadão, então uma grande região de mata densa. O credor hipotecário não aceitou as condições. Sendo assim, o senhor Zacarias pagou o valor da dívida ao seu genro e o Sr. Ignácio transferiu a escritura para aquele. Assim o senhor Zacarias José de Resende (Benzinho) tomou posse das terras e passou a cultivá-las. (2) (3)



Início da ocupação:

Com o objetivo de fazer daquelas terras uma propriedade lucrativa, Benzinho envia um administrador para iniciar o destocamento e pecuária, chamado Antônio "Aninha". Com este primeiro administrador os negócios não iam bem, devido a falta de independência deste empregado. Por isso um antigo amigo de Benzinho que trabalhava com ele em sua fazenda na região da Forquilha, em Carmo da Mata, é convidado para ir com sua família cuidar daquelas paragens: era o senhor Antônio de Paula Borges. (2) (3)




Antônio de Paula Borges, sua esposa Maria Rosa e filhos.


A mudança para o Baixadão

Antônio de Paula Borges saiu de Carmo da Mata para trabalhar na fazenda Baixadão, como administrador. Não demorou para que ele trouxesse também o restante da família, como seu irmão José Ferreira Borges Primo "Zé Ferreira Pinto", que chegou ao Baixadão por volta de 1941. Na época, Cedro do Abaeté era um pequeno povoado, distante cerca de 15km ao norte da Fazenda (2)




Estação da EFOM em Dores do Indaiá. (6)

Nota: O apelido Pinto deve-se ao fato que a familia originou-se na região rural dos Pintos, quase na divisa com o município de Oliveira. (2)

Os Pintos:

A transferência de José Ferreira Borges Primo, casado com Ana Bárbara de São José, foi uma verdadeira epopeia. Eles possuíam um pequeno terreno na região da Forquilha, em Carmo da Mata, vizinhos à fazenda dos Rezende e muitos integrantes da família já trabalhavam antes com "Benzinho". A Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) tinha possibilitado a ligação do oeste mineiro e foi a via usada pela família para fazer a mudança. Assim, vieram em grande caravana, sendo as mulheres de trem saindo da estação de Carmo da Mata até a estação de Dores do Indaiá e os homens de carro de boi. Embarcando a mudança nos carros de Bois, se encontraram e terminaram o caminho atravessando a terra vermelha do Campo Alegre, e as altas montanhas do Quartel de São João, passando pelo Araçá até desembarcar na fazenda. O casal já tinha 12 filhos a esta época e alguns já estavam casados, como o senhor Pedro "Pinto".

Meu avô, Sebastião Ferreira Borges "Tião Pinto", filho de José Ferreira, tinha apenas seis anos quando toda a família se mudou para a região dos Três Morros.

Os primeiros anos foram dificeis, o trabalho era duro e uma vez que a região era muito despovoada até então, e mesmo com dinheiro era difícil comprar víveres ou negociar animais.

José Ferreira Borges Primo (1899-1951) e Ana Bárbara de São José

Como era a vida no Baixadão:

A fazenda constituía-se de um antigo casarão de assoalho, com um porão, onde morava o senhor Antônio de Paula, sua esposa Maria Rosa de Jesus e filhos. A casa ficava de frente onde hoje é propriedade do senhor Valdir, mas do outro lado do córrego perto de uma grande gameleira e um cocho de animais.

Havia nos primeiros anos muita mata para destocar, muita fazenda ainda por formar e os animais chegavam até a porta de casa. Com os anos, ao lado da casa de Antônio de Paula, foi constituindo-se praticamente um arraial, que chegou a ter 30 casas e uma escola na década de 50 e 60. No início as casas eram de taipa. Depois, de telhas, tijolos e chão batido. A maioria do povo que morou ali permaneceu sendo da família Borges.

" - Meu tio Antônio de Paula engordava 100 capados. Gastava muita lenha para despesa, eram 15 carros por ano. Desnatava 300 litros de leite, e passava para os capados 3x ao dia. Era usada uma desnatadeira "tocada à braço". Depois o creme que sobrava era levado em garupa de Mulas, indo ao Vinico, na fazenda da Garça. Essa era a vida. Era muita fartura. " (2)

Muita coisa se colhia lá. Criavam galinhas, tiravam o leite, plantavam milho, arroz, feijão, café. A água era buscada no córrego.

" - Meu pai enchia carros de fumo e levava para vender em Dores do Indaiá." (2)

Senhor Antônio de Paula ia algumas vezes por ano até Carmo da Mata entregar valores ao sr. Benzinho. Ele era conhecido por ser muito honesto e trabalhador, preferir andar descalço e ir levando o saco de dinheiro sem muita discrição. Porém, na época isso não era problema pois assaltos nao eram comuns na região. Embarcava em Dores na Estrada de Ferro e ia até Carmo da Mata.

Filhos de José Ferreira Borges e Ana Bárbara de São José:

Vicente (nasc. 1916), Pedro (nasc. 1918), Antônio (nasc. 1920), Francisco (nasc. 1922), Francisca, Maria, Ilídia, José Maria, Bárbara (Quinha), Sebastião (1934), Izabel (1931), Geraldo, Maria da Conceição (1942).



Pedro Ferreira Borges de São José, sua esposa e filhos.



Maria Borges, Afonso de Paula e filhos.



José Maria Pinto, Maria da Conceição e (Bárbara) Quinha.




Geraldo "Pinto".




Antônio Borges.




Pedro, uma tia materna e Chico Pinto.




Izabel Borges e seu marido Geraldo Vargas.




Francisca Borges ao centro.

As visitas de Zacarias Resende:

Quando era Benzinho que queria visitar a propriedade, era a seguinte dinâmica:

"Meu avô vinha de trem de ferro, e eles o buscavam no último ponto da estação, na Serra da Saudade "Melo Viana". Antes ele escrevia de Carmo da Mata e o carteiro vinha à cavalo. Seu Antônio de Paula mandava um empregado, que pegava um cavalo e puxava outro para ele vir." (3)

"A égua que Benzinho mais gostava de cavalgar, era do meu irmão, Vicente Pinto." (2)




Estação de Melo Viana.

Mudança de Ramo:

Com a diminuição do preço dos grãos e o grande êxodo rural, era mais interessante para muitas famílias deixar o Baixadão e procurar outras profissões como a de carreiro ou aração. Associado a isso, a situação dos filhos solteiros e de Ana Bárbara ficou mais dificil após o precoce falecimento de José Ferreira Borges, em 1951, aos 52 anos de idade.


Pedro "Pinto" e sua junta de bois.

Fim da povoação:

O número de famílias morando na fazenda foi reduzindo a cada ano. Com o falecimento do Sr. Benzinho na década de 50, a propriedade passa a seu filho Aníbal Rezende, casado com Leonina Laudenina Assis. Após alguns anos, dois filhos de Aníbal Rezende se instalam na região. Zacarias Assis em 1961 e José Geraldo de Assis (Tim Caria) em 1965.



Senhor Aníbal Rezende (filho do Sr. Benzinho) em primeiro plano, com sua junta de bois. Carmo da Mata. (5)



Tim Caria ao centro e Zé Vidinha. Lavoura da café no Baixadão. 1982.

José Geraldo (Tim) casou-se em Cedro do Abaeté, com Dona Dina (da região da fazenda Gerais - Dores do Indaiá) onde estabeleceu numerosa família.

Legado:

O baixadão foi uma espécie de forja moral, onde homens e mulheres de grande valor e trabalho construíram sua história e criaram suas familias. Hoje sua descendência se espalha por uma parcela considerável da população cedrense e por isso devemos preservar suas memórias.




Pedro "Pinto", Sebastião "Pinto" e José Maria "Pinto"




Paisagem da fazenda Baixadão, foto de Luiz Alves da página do Instagram "Paisagens do Indaiá".


Notas:

1 - Breve história de Carmo da Mata:

As terras onde hoje se situa o Município de Carmo da Mata não possuíam habitantes permanentes, sabendo-se apenas que o local abrigou em algumas oportunidades, elementos indesejáveis que fugiam à justiça da época, além de quilombos formados por negros fugidos das fazendas ao redor.

Carmo da Mata foi, no século XVII, a região por onde transitavam, obrigatoriamente, aqueles que se dirigiam a Goiás, pela antiga Picada de Goiás, que indicava o caminho do oeste aos bandeirantes. Por volta de 1753, Inácio Afonso Bragança por ali passou e de tal forma seduziu-lhe a região, que se decidiu nela instalar­-se. A terra era fértil, banhada pelo rio Boa Vista, com campinas imensas e matas colossais. O clima, a água abundante e sobretudo a ótima qualidade do solo, tornavam a região o sítio ideal para uma sesmaria.

O primeiro nome dado ao lugar foi Boa Vista, posteriormente trocado para Mata da Boa Vista, com o objetivo de diferenciar o lugar do Rio. Inácio Afonso Bragança para lá se transferiu, tendo de imediato requerido a concessão da sesmaria. Como demorasse o despacho de seu requerimento, sua esposa fez uma promessa a Nossa Senhora do Carmo, a qual foi cumprida quando, em 16 de julho de 1754, veio o despacho desejado. A antiga Boa Vista, contando com uma capelinha em honra à Virgem do Carmo, passaria a chamar-se Ermida da Mata da Senhora do Carmo, posteriormente abreviado para Mata do Carmo.


A origem do topônimo é uma homenagem à santa padroeira, Nossa Senhora do Carmo, e uma alusão às matas existentes no município.

2 - Relação com outras famílias:

Ana Cândida do Amaral: era prima em segundo grau de Francisca Cândida Teixeira (esposa de Ignácio Ribeiro de Andrade). Ambas eram tataranetas do fundador de Carmo da Mata, o senhor Inácio Afonso Bragança (1730 - ?), nascido em Congonhas do Campo - MG.

4- A lenda do tesouro nos Três Morros:

Trata-se de um documento encontrado nas coisas do Sr. Benzinho, que trata-se de um roteiro colonial para um tesouro escondido no "lugar chamado três irmãos, que são três montes iguais". Conferir no link: https://cedrodoabaetemg.blogspot.com/2022/03/o-roteiro-da-gameleira-e-tres-irmaos-um.html
Fontes:


1 - Livro "Carmo da Mata: sua terra, sua gente." Lineu de Carvalho.
2 - Entrevista com o Senhor Sebastião Ferreira Borges (meu avô)
3 - Entrevista com o Senhor José Geraldo Assis (Tim Caria)
4 - Entrevista com o Senhor Zacarias Assis.
5 - Contribuição de Ândrea Assis.
6 - Grupo do facebook "Vale do Rio Itapecerica". Contribuição de Leonardo Alves.




Mapa de Parte da Estrada de Ferro Oeste de Minas e Estrada de Ferro Paracatu.


Comentários

  1. Olá, primeiro quero parabenizar a você, autor do blog, por sua pesquisa tão bem feita em torno da história que envolve nossa família...Meus pais, Geraldo Vargas e Isabel Borges, falavam muito de tudo isso...baixadão, três morros...minha mãe, aliás, nunca gostou de dores, seu sonho era morar no Cedro, mas a vida tem caminhos estranhos... Ela também contava sempre como a vida era dura no baixadão, como todos, até as crianças, trabalhavam muito! No mais, ver a foto deles ao lado da foto do querido Tio Antônio, com quem tive mais contato por morar em Dores, foi emocionante...E também nunca tinha visto uma foto dos meus avós maternos! Enfim, que venham mais histórias...isso nos conforta quando as pessoas que amamos se vão... Um abraço.

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    1. Ola Ana meu nome é wesley sou filho de Pedro Borges , não sei se vc conhece mais acho que mim lembro de Geraldo Vargas e Isabel Borges , acho que eles mora ao na rua Rio Grande do Sul. Que bom rever e saber sobre nossos antepassados. Um abraço

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    2. Olá Wesley, você é neto do tio Antônio? Não nos conhecemos... Sim, meus pais moravam na rua rio grande do sul... Acho que você não sabe, mas infelizmente, eles faleceram...meu pai em 2018; minha mãe em 2019... um abraço

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  2. Outra coisa: essa é a história dos trabalhadores do Brasil. De gente de muito valor que trabalhou nas fazendas de muitos proprietários de terras Brasil afora e pouco ou nada tiveram...'Venderam' a força do seu trabalho, viveram muitas dificuldades, impensáveis para nós que hoje vivemos nesta 'modernidade' que nos cabe... Minha mãe contava que não tinha nem dez anos e já tinha que levantar de madrugada para ajudar minha avó...sofriam problemas de saúde, não havia médicos...são muitas histórias que um dia sonho em publicar de forma ficcional... Espero que venham mais histórias :-) !

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  3. Boa Noite,

    Extremamente agradecido por ter a oportunidade de ler um pouco sobre a história da minha família, meu nome é Lucas Diniz, sou neto de Rafael Pinto Diniz, filho da Dona Francisca Barbara de São José que foi casada com Antônio Pinto Diniz.
    Para exemplificar José Ferreira Borges é meu Trisavô e Ana Bárbara de São José é minha Trisavó.

    Na fotografia da minha bisavó Francisca que está ao centro da foto, juntamente com meu Avô Rafael Pinto Diniz e minha Avó Oneida Alves de Lima.

    (37)9-9998-4089 deixo meu contato para mais informações.

    Desde já, agradeço.

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    1. Olá Lucas Diniz, conheço seu avô, ele ia muito em casa quando eu era adolescente (há séculos atrás rsrs) . É o Rafael, pai da Ângela? Sua mãe se chama Eleusa? É que uma prima minha, neta da Tia Francisca, foi minha colega de escola no Benjamim Guimarães. Bom, acho que nessa época (começo dos anos 80) você nem havia nascido. Abraços... é bom 'conversar' mesmo que por aqui com quem tem as mesmas origens.

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