HISTÓRIA DA FAZENDA CARETA (NOSSA SENHORA DA PENHA DO CARETA)
Uma das mais antigas fazendas no atual município de Cedro do Abaeté é a fazenda Careta. Seus primeiros registros até agora encontrados ainda preservados são de 1856, em ocasião do Regulamento da Lei de Terras do Império do Brazil. Até a data desta legislação a maior parte dos fazendeiros locais não registravam em órgãos oficiais o título de posse, sendo tanto a compra e venda quanto os limites feitos em acordos pessoais, o que resultava em conflitos. Isso se devia tanto à distância do local em relação aos centros jurídicos quanto à política de sesmarias.
A partir do Regulamento número 1318, de 30/01/1854 (conhecido como Lei de Terras) ficou definido que todos os possuidores de terras no Império do Brazil, qualquer que fosse o título de sua propriedade, ou possessão, ficassem obrigados a fazer registrar as terras. Como menciona a lei:
"As declarações para o registro serão feitas pelos possuidores, que as escreverão, ou farão escrever por outrem em dois exemplares iguaes, assignando-os ambos, ou fazendo-os assignar pelo individuo, que os houver escripto, se os possuidores não souberem escrever." (1)
Os Vigários de cada uma das freguesias do Império ficaram encarregados de receber as declarações para o registro das terras. Estas instruções eram comunicadas à população nas Missas.
Como lemos no artigo Art.100:
"As declarações das terras possuidas devem conter: o nome do possuidor, a designação da Freguezia, em que estão situadas: o nome particular da situação, se o tiver: sua extensão, se for conhecida: e seus limites." (1)
A primeira escritura da Fazenda Careta (1856):
Felizmente esse detalhado registro chegou até nós através da digitalização realizada pelo Arquivo Público Mineiro na década de 70. No documento a fazenda é mencionada com o nome "Careta e Cubatam" sendo que Manuel de Oliveira Costa (morador no distrito do Espírito Santo do Indaiá - atual Quartel Geral-MG) registrou na casa do padre o vigário João Batista de Aguiar ser possuidor de 08 alqueires de cultura que fez por compra de Dona Felicinana Alves da Silva.
Trecho da primeira escritura da fazenda Cubatão e Careta - 1856. (2)
Anos depois, em 1891 a mesma fazenda, com a variação do nome "Fazenda Cubatão e Careta", de cultura e campos, aparece em um registro do periódico "Estado de Minas" pertencendo a vários donos no regime chamado "Pro Indiviso". No mundo do agronegócio, principalmanete no século XIX era comum encontrar fazendas sob o regime do chamado condomínio indiviso onde cada condômino tem uma parte do todo, sem demarcação física do que é seu. Como em 1891 ainda não existia a vila de Cedro o terreno pertencia ao distrito de Dores do Indaiá chamado "Espírito Santo do Indaiá - atual Quartel Geral". (3)
Os donos nesta época eram:
- D. Mathilda de Heredia Mendes Ribeiro, viúva de João Alvaro de Oliveira Campos
- Antônio Alves da Silva
- Alcibíades de Moura Costa
- Alexandre José Bernardes
- Antônio Zacarias Álvares da Silva - o Barão do Indaiá
- Joaquim Pinto de Magalhães (residente em Madre de Deus do Angu, Leopoldina, MG).
Trecho do edital do "Estado de Minas Gerais - 1891" tratando da petição de divisão da fazenda.(3)
Limites da Fazenda em 1891:
Os limites da fazenda na época:
"principiam na cabeceira do córrego do Muchôco, defronte a fazenda da Garça e daqui seguindo pela estrada do Quartel Geral, aguas vertentes para a esquerda, até a cabeceira do Pasto do Rei, daí em rumo a uma cabeceira de um sacco de campo denominado de José Bernardes onde hoje mora Cândido Pinto de Magalhães daqui atravessando um córrego que passo no fundo do quintal em linha recta ao espigão onde existe uma estrada que sobe para o córrego das Pedras por esta estrada acima águas vertentes para a esquerda até o alto da Serra, onde existe um cruzeiro" daqui serguindo até a barra da Marmeladinha, atravessando o córrego ou Ribeirão Marmelada ,subindo pelo espigão mestre e dobrando até o córrego denominado Careta por este acima e suas vertentes do lado direito até a cabeceira e desta até a Pedra Menina, desta voltando pelo espigão mestre abaixo até a mesma barra da Marmeladinha, atravessando este córrego para o seu lado esquerdo subindo até um sacco de campo denominado sacco do Muricy, subindo por este sacco em rumo à Serra rodeando as cabeceiras do córrego dos Esteios até a lagoinha da Garça daí descendo pela estrada até a cabeceira do Muchôco confrontando com a mesma fazenda da Garça onde tiveram princípio as mesmas divisas." (3)
Por estes limites entende-se que era uma enorme propriedade rural, com extensões à direita e à esquerda do ribeirão Marmelada compreendendo grande parte da região sudeste do atual município de Cedro do Abaeté como parcela considerável do oeste do município de Quartel-Geral.
A fazenda Careta no século XX:
Em 1920, após a divisão da fazenda Cubatão, esta pertencia a Francisco Bernardes e Pedro Bernardes Teixeira. O censo de 1920 não faz menção ao nome Careta, porém ela aparece no importante mapa de 1922 ao lado da Fazenda Santa Clara.
Fazenda Careta no "Mapa do município de Abaeté" (1922), à nordeste do Pedra Menina, nos primórdios de Cedro do Abaeté.
O conjunto arquitetônico da Fazenda Careta:
Como contava o senhor Bruno Alves (Bruninho) a sede da fazenda foi construída no final do século XIX por um coronel chamado Portes, vindo do Rio de Janeiro.
Pelo texto de Valério Gabriel (1998):
"A casa se mantém suntuosa com sua base sólida fincada em esteios de aroeira, com seus 14 cômodos, a maioria de tábuas corridas e janelas de perobas. Currais e celeiros de madeira contrastando com o céu azul e o rio que corre a poucos metros em seu leito de pedra (...) tudo símbolo da opulência e do poder do ciclo do Café. Na época e durante muito tempo a maior economia da região mas que na década de 60 (...) se desfacelou dando lugar à economia agropecuária".
Bruno Alves (Bruninho) (1936-2011) adquiriu a fazenda com o nome "Nossa Senhora da Penha do Careta" do Coronel Portes no ano de ___. Bruninho foi um importante fazendeiro em nossa região. Começou a trabalhar aos 05 anos de idade, já lidando como vaqueiro aos 07. Quando menino "sonhava com terras e boiadas". Tornou-se lojista aos 17 anos, quando confeccionava enxergão nos momentos de folga. Ingressou para a carreira política no município de Quartel Geral-MG sendo eleito vereador por sete mandatos e vice-prefeito. Casou-se com Maria Antônia com quem teve as filhas Simone, Sandra e Sueli.
A fazenda da Nossa Senhora da Penha há mais de um século imbricada no vale do Careta.
Foto do Paiol de Madeira, por Arnaldo Alves Soares (2018).
A velha gameleira ao lado da sede da fazenda, como era costume no século XIX ter essas árvores por perto. Casa com porão inferior, esteios e baldrame aparentes, telhado de quatro águas e janelas de vergas retas, em madeira. Foto de Arnaldo Alves Soares (2018).
Belíssimo e interessante exemplar de construção em madeira. Paiol todo em tábua corrida usado para guardar sal, insumos etc. Na época o senhor Bruninho utilizava para armazenar grãos de milho. Possivelmente era a tulha de guardar os grãos de café no início do século. Embaixo atualmente fica o chiqueiro.
A fazenda no vale do Careta, foto de 1998.
Visão da fachada da sede, com a gameleira à esquerda. A construção é típicamente colonial mineira com os esteios de madeira fincados sobre o baldrame, conta ainda com as janelas originais.
Visão posterior da fazenda, em primeiro plano o leito do córrego do Careta. Da esquerda para a direita, a Sede, o Barracão e a antiga Tulha (atual Paiol e chiqueiro).
Bruninho Alves (1936-2011) e a Cachoeira do Careta ao fundo. Todas as fotos em Preto e Branco são do professor Valério Gabriel, registro de 1998.
A relação com o Córrego do Careta e a Cachoeira:
O Careta nasce no Pedra Menina e é um importante afluente do Ribeirão Marmelada. Tem como afluentes o córrego Caeté que nasce também no Pedra Menina e o córrego Caretinha que nasce na cidade do Cedro. Possui uma cachoeira com muitos metros de queda que é de difícil acesso, mas tem entrado na rota do turismo como fruto da maior atenção que a administração municipal tem dado ao turismo ecológico, especialmente o vereador Júlio Cesar Costa. É interessante pensar na origem do nome Careta, devido à diversidade de sentidos para esta palavra já no século XIX. Pode se referir à (1) contracção burlesca da boca ou do rosto, (2) Peça para ocultar ou disfarçar o rosto (máscara) (3) Objecto com que se tapa a boca da vítima para que não grite ou (5) O nome dado a certos fragmentos de cerâmica indígena, encontrados na margem esquerda do Amazonas com motivos de decoração antropomórfica ou zoomórfica.
Cachoeira do Careta, fotos do "Brasil fora da Estrada"
A fazenda da Careta representa importante testemunha da história da formação e colonização do município de Cedro do Abaeté. Sua história e memória merecem ser registradas e conhecida por todos.
Fontes:
1 - Senado Federal.
2-Arquivo Público Mineiro - Registro de Terras - Dores do Indaiá - Parte 1 - página 10.
4 - Censo 1920 - Biblioteca do IBGE. https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=216312
5 - Reportagem do Nosso Jornal de 1998 intitulada " Um Santuário Ecológico" pelo professor Valério Gabriel.
6 - https://www.youtube.com/watch?v=WsCixUKqy-c&t=41s Vídeo da Cachoeira do Careta
É muito gratificante está história ; conheci Cedro do Abaeté quando só tinha uma rua conheçi Quartel geral Quartel de São João o Esteio citados neste documentário
ResponderExcluirEu Adair Miranda Da silva nascido na Cidade de Abaeté digitei este comentário acima
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