FRANCISCO DE PAULA GUIMARÃES E ANNA JOSEPHINA GUIMARÃES- SÉRIE "FUNDADORES DO CEDRO"
O Coronel Francisco de Paula Guimarães (1870-1945).
Francisco de Paula Guimarães nasceu na vila de Madre de Deus do Turvo em 1870 e faleceu em Abaeté no dia 08 de Julho de 1945.
Para falar deste importante personagem que figura entre os primeiros moradores do Cedro, é importante destacar o então povoado de Madre de Deus do Turvo como fluxo de migrantes à nossa região.
O povoado de Madre de Deus teve início no século XVIII, ao redor da capela primitiva, filial da paróquia de São João del-Rei. O patrimônio da capela foi constituído por Antônio Rosa, em 1753. Os doadores eram proprietários de uma fazenda, onde a casa sede, serve hoje, de prefeitura municipal. Em 6 de julho de 1859, foi elevado a povoado. Em 07 de setembro de 1923, já integrando o município de Turvo (atual município de Andrelândia), teve sua denominação mudada para Cianita. Em 12 de dezembro de 1953, a vila de Cianita foi elevada a cidade com a denominação de Madre de Deus de Minas.
Cenas da antiga Madre de Deus do Turvo, onde Francisco Guimarães viveu.
Em Madre de Deus, chegou a ser professor e inspetor escolar Jornal Cidade do Turvo 1897.
Família:
O Coronel era da família dos Teixeira Guimarães daquela localidade, de forte tradição agrícola. Filho de Miguel Teixeira Guimarães e Maria Isabel de Andrade.
Lista da Família Teixeira Guimarães - Censo de Madre de Deus - 1848.
Casamento.
Em Carrancas-MG, cidade próxima, casou-se com Anna Josephina Garcia (1874-1946) filha de Zeferino José Garcia e Maria Madalena das Dores descendente de açorianos que imigraram para a região de São João del Rey no século XVIII e que cultivava uma boa fazenda. O casamento foi realizado em 1892. Há registros de Anna organizando os eventos da tradicional Semana Santa na cidade. Ela também ocupou cargos públicos, como o de agente dos correios.
Dona Anna Josephina, já com seu nome de casada, como irmã de mesa da festa do Nosso Senhor dos Passos (que rememora a paixão de N.S Jesus Cristo). Jornal O Estado de Minas, 1893.
Jornal O Estado de Minas, 1894.
Anna Josephina Guimarães.
Mudança para a nova capital do Estado.
Possivelmente atraído pela efervescência e oportunidades da nova capital, transferiu-se ali com a família no fim do século XIX. Conforme relatos orais, foi dono de alguns imóveis em Belo Horizonte, nos bairros Floresta e Boa Vista, tendo uma fazenda nas redondezas. Fez amizade com o deputado e então vizinho Jaime Gomes de Souza Lemos e sua esposa Maria Luiza Negrão Gomes (Luizinha), pais da futura primeira dama Sarah Kubitscheck.
Transferência para Abaeté e a Fazenda:
Dirigiu-se para o centro oeste mineiro em 1915, motivado pela vontade de morar em um lugar mais tranquilo e pelas oportunidades econômicas. Incentivado por um amigo (Sr. Bracarense) mudou-se para Abaeté, adquirindo grandes propriedades rurais onde futuramente seria o município do Cedro na antiga fazenda Sant'Anna compradas de descendentes do Barão de Indaiá. Quando chegou à região, a localidade onde hoje está Cedro era um ermo sertão rico em matas (principalmente a Mata do Careta, Pasto do Rei e a Mata dos Três Córregos) onde viviam alguns fazendeiros e empregados dispersos em suas propriedades. Entre eles, Miguel Rodrigues Braga que figura entre os primeiros moradores da região. Além da família, o Coronel Francisco trouxe agregados como uma de suas criadas, também de Madre de Deus chamada Dolores de Carvalho Alves (Mãe de Geraldo Dolores) casada com Augusto Alves de Assis . Havia também o senhor José Pedro (sobrinho de Francisco de Paula) e Dona Fonsina, que se tornaram fazendeiros na Serra do Capacete incentivados por ele. Foi por iniciativa deles que se transferiu para o Cedro a matriarca da família Martins, dona Francisca Inês de Jesus (prima de Anna Josephina).
Francisco adquiriu uma extensa propriedade que hoje compreendem a fazenda dos Três Córregos e fazenda da Gurita (atualmente de Simão Vilas Boas), sendo chamada de fazenda Santa Clara. Ali iniciou uma grande plantação de fumo entre outros gêneros.
Certidão de bastismo, do senhor Salvador Guimarães, feita na fazenda Santa Clara em 1923. Salvador era neto de Francisco Guimarães.
Ao se instalar em Abaeté, Francisco teve hotelaria na cidade e em Dores do Indaiá. Era tido como morador ilustre, como podemos observar nos jornais da época, que narram visitantes em sua casa nas colunas sociais em Maio de 1943.
Seu neto, Salvador Guimarães dizia que o avô foi um homem muito sistemático mas também generoso.
Isso pode ser atestado pelas doações que fez à então vila do Cedro, como o terreno para a construção da primitiva Capela, que se tornaria a Igreja atual, que só ficaria pronta no em 1960. Também o antigo Cemitério (atual Copasa), um terreno para a construção da antiga escola, a rua principal, que recebeu seu nome (oficializado em lei de 1953) e um terreno para o campo de futebol que hoje é o parque de exposições da cidade. Sua extensa propriedade rural lhe conferia o título informal de "Coronel" entre os regionais.
Mapa de Abaeté - 1922. Ao centro (destacada em verde) a fazenda Santa Clara, propriedade so senhor Pedro Marques Filho. As únicas propriedades que constam uma sede neste mapa entre o Pedra Menina e o Capacete são a Sta. Clara e a fazenda do Careta.
Marcação (hipotética) em laranja do que seria a área original das terras de Francisco. Mapa de Cedro do Abaeté, 1970. Exige verificação documental para conferência dos limites da fazenda. A fazenda da Gurita em 1970 pertencia a Salomão Guimarães e a fazenda Três Córregos a Salvador Guimarães, ambos netos de Francisco de Paula.
O geólogo e palentólogo alemão Bruno von Freyberg em sua viagem pela serra do Capacete - 1932, comenta a passagem pela fazenda de José Pedro na localidade.
Majestoso Eucalipto plantado por Francisco de Paula em 1928, na fazenda Três Córregos (atualmente pertence a seus bisnetos), também chamada de "Zinco".
O centro oeste mineiro começou a atrair muitas pessoas nesta época pelas terras baratas, clima ameno, agropecuária em expansão e o garimpo. Tudo isso com a melhoria do acesso devido à Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM).
Visita da esposa do militar Cel. Afonso Elias Prais (que seria vereador em BH na década de 50). O Abaeté Jornal - 1943
Conta-se que quando recebia alguém em casa e o convidado aceitava uma fruta, ele também dava uma muda da planta e dizia: - Leva para você plantar! Você não nasceu em cima de uma pedra!
Francisco representou Abaeté na convenção do recém criado PSD (mesmo partido de Juscelino Kubitschek, que era pró-Vargas) em Belo Horizonte, no ano de seu falecimento. 1945. Seu filho Miguel Guimarães herdaria a projeção política do pai transformando o Cedro em vila onde os eleitores eram de maioria PSDistas.
Nota de falecimento de F.P.G. Abaeté Jornal, 1945.
Diz-se que o primeiro veículo motorizado a entrar na vila de Cedro foi um caminhão que trazia o corpo do coronel em um cortejo fúnebre. Foi sepultado inicialmente no cemitério antigo e seus restos mortais foram transladados para o novo.
A partir da esquerda: Anna Josephina Guimarães, Francisca Inês de Jesus ( Inhá Chica, matriarca da família Martins e prima de Anna), Tinoca (nora de Francisca Inês, casada com Geraldo Martins). Na fileira da frente, Vitória e Carmelita.
Descendência: Tiveram 10 filhos, a saber:
-Miguel Teixeira Guimarães (Miguelão, pai do Sr. Salvador Guimarães e Sr. Salomão Guimarães. Nascido em 1896). Casado com Izabel Garzon.
-Elias Guimarães (1903- falecido em 1922, vítima de Meningite).
-Clara Guimarães (1894-1969), falecida solteira e vivia com os pais.
-Efigênia Guimarães Beltrão (esposa do Miguel Odorico Beltrão, foi farmacêutico no Cedro e falecido em 1947).
-Lucínia Guimarães casada com Antônio Carvalho de Araújo (pais da Dona Aparecida do Odilon). Tiveram oito filhos.
-Anna Guimarães, não se casou e vivia com os pais.
-Maria das Mercês Guimarães - Esposa de Vicente Faria Melo (pais dos ilustres Ubirajara Guimarães e Marcelo Guimarães Mello - geólogos formados na Escola de Minas de Ouro Preto). Marcelo chegou a ser ministro do governo federal.
- Maria Izabel de Paula Guimarães, faleceu jovem sem filhos. Não se casou.
- Margarida Guimarães, foi casada com José Justino de Carvalho.
- Maurílio de Paula Guimarães - falecido com 1 ano de idade.
Ao centro, a Avenida Coronel Francisco Guimarães, principal via da Cidade.
Este é um texto que só foi possível devido à colaboração de familiares, amigos e moradores. Aos leitores que possuírem mais informações, ficarei muito grato se puderem contribuir neste blog.
Fontes:
1- Arquivos do CPRM.
2- Entrevistas com familiares e amigos.
3- Arquivos da Biblioteca Nacional.
4- Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
*Deixo em nota homenagem ao Senhor Geraldo Dolores, grande conhecedor da história do Cedro e que foi morar com Deus dois dias após a entrevista que fizemos.
** As terras de Francisco possuem nos registros antigos o nome Comum de Sant'Anna. Este nome se repete em escrituras antigas de terras onde hoje é o Cedro. Elas se referem ao antigo Quartel de Sant'Anna que ficava localizado nos arredores desta região em 1790 e que tinham como comandante o pai da baronesa do Indaiá (Mj. José de Deus Lopes). Ele tinha também uma grande fazenda chamada de Santa Ana com sede próximo ao Gamelão.
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