CORRESPONDÊNCIA ENTRE O CAIXA DO QUARTEL GERAL DR. DIOGO DE VASCONCELOS E DONA JOAQUINA DE POMPÉU.
Carta do Dr. Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos para Dona Joaquina em que fala dos bois de Donativo que recebeu da mesma à D. João VI.
" Ilma [Ilustríssima] Senhora Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco
Minha camarada Mãe e Senhora
Recebi a sua, com que folguei pela certeza da sua saúde, e que o Céu lha continue, conforme os meus desejos, pois sabe quais eles são depois de confiar da sua amizade e virtudes a minha família, que me não sai jamais da lembrança e cuido que só verei para fins de Maio, ou princípios de Junho, quando tenha de ir ao Rio de Janeiro porque do contrário mais cedo nos veremos. Faça R. S. as vezes de Mãe e de Avó, e não é muito que tendo santos filhos e netos acrescente meia dúzia mais aquele número.
O seu Francisco nada quer de cirurgiões. Leva dois barris de vinho, o chumbo sortido, tabaco e freios, conforme a sua ordem. Ele lhe dirá que faltaram 14 bois mortos ou extraviados no caminho, e que além dos 200 de S. A. R. [ Sua Alteza Real ] fiz apartar 13, que entreguei ao ajudante Bento Joaquim e que o Cunha não quis comprar, desfazendo me neles como lhe dirá o seu escravo bem como as pessoas a quem pertencem essas 13 cabeças.
Fico de acordo a procurar compradores e a pedir ao dito ajudante que entenda na mesma diligência, pois a Fazenda Real não compra, porque tem muito dos certões e da Comarca do Rio das Mortes. Resta-me dizer-lhe que em toda a parte hei de executar as suas ordens e que me recomende a todos os seus filhos particularmente a Senhora D. Maria. Já tarda a proposta do Senhor Felix (ilegível) terá que se vá a ter com o Capitão Mor para a fazer porque sua excelência quer lhe dar provas da estimação em que a tem, tanto assim que já remeteu a sua carta a Real Presença de Sua Alteza abonando o seu Patriotismo. Tudo isso me satisfaz porque sou.
P.S.
Os nossos amores lhe envia saudades e foi agora para N. Sra das Dores* encomendar-nos a Deus.
Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos
Vila Rica, 18 de Março de 1808."
Contexto:
O ano da correspondência, 1808 marcava a vinda da família real para o Brasil, que ocorreu em 22 de janeiro. Fugindo da invasão napoleônica, a corte e cerca de 10.000 súditos se instalaram no Rio de Janeiro. Naquela ocasião a cidade se encontrava despreparada para sustentar tantas pessoas. Segundo Agripa Vasconcelos, para resolver o problema, o Vice-Rei do Brasil pediu auxílio ao governador de Minas Gerais. Por sua vez o governador, que já havia contado com o auxílio de Joaquina Bernarda em uma fome que houve em Vila Rica, recorreu ao seu socorro. A fazendeira então mandou o suprimento necessário. Isso a fez conquistar a simpatia de Vossa Alteza o Príncipe Regente Dom João de Bragança (futuro Dom João VI).
Também chama atenção a intimidade familiar com que o Dr. Diogo trata D. Joaquina, chegando a deixar entendido esta deu pouso à familia daquele. Diogo, além de ser vereador, procurador da fazenda e tesoureiro vitalício da Intendência de Ouro Preto também foi Caixa da Extração dos serviços de Indaiá e Abaeté (nomeado em 27/06/1807, permanecendo até o fim do empreendimento em 13/10/1808).
Fonte:
1 - Arquivo Público Mineiro - FJBP 1-Cx.01-Doc.36 "Carta de Diogo Pereira Ribeiro para Joaquina Bernarda sobre assuntos pessoais, comércio de tabaco e outras mercadorias.".
2 - Para conhecer mais sobre a vida de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos, caixa da extração, o seguinte link: https://cedrodoabaetemg.blogspot.com/2022/09/215-anos-da-chegada-do-dr-diogo-pereira.html
Notas: A N. Sra das Dores do texto é provavelmente a capela de Nossa Senhora das Dores do Monte Calvário, em Ouro Preto.
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