DR. DIOGO PEREIRA RIBEIRO DE VASCONCELOS - 215 ANOS DE SUA CHEGADA AO QUARTEL GERAL DO INDAIÁ- 04/09/1807 * 04/09/2022

Reputado como um dos mais ilustres homens de letras em Minas Gerais, Dr. Diogo foi jurisconsulto, historiador e escritor, sendo autor de fontes fundamentais para a historia mineira, pela abrangência e riqueza de suas informações. Para nossa região, teve a incumbência de ser caixa da real extração diamantina do Indaiá e Abaeté, e por isso merece nossa consideração.

Origem:
  
Nasceu na freguesia de Santo Ildefonso, extramuros da Cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1758.


Igreja de Santo Ildefonso, Porto. Construída em 1739. 


Filiação: 

Seus pais foram Dona Ana Jacinta da Natividade (nascida em 1734) esposa do Coronel Jeronimo Pereira de Vasconcelos, casados em 1756. Sua mãe era 
descendente de família açoriana, da Ilha do Faial. Pelo pai era terneto do Dr. Diogo Mendes de Vasconcelos, embaixador e latinista de destaque no século XVI. 

Primeiros anos: 
 
Veio para Minas Gerais aos 09 anos, em requisição do seu avô materno, o português e Sargento Mor Jacintho Pereira Ribeiro, que residiu em Ouro Preto e se estabeleceu em Congonhas do Campo, tendo ficado rico com uma loja de fazendas e de serviços para mineração em sociedade com seu conterrâneo,  Alexandre de Carvalho, de Santiago de Loubão. A intenção do avô era empregá-lo no comércio, carreira que não seguiu pois revelou aptidão para as letras. 

O Sargento Mor Jacintho era casado em primeiras com a senhora Domingas da Rocha, que não veio para o Brasil, com quem teve sua única filha. Seis anos após ficar viúvo, casa-se com D. Anna Maria de Jesus, natural de Ouro Branco-MG, e da principal família daquela freguesia, os Meneses.  (4)

Formação: 

Estudou no Seminário de Mariana, tendo sido seu professor o grande Latinista, o Padre Paschoal Bernardino Lopes de Mattos. Sobre o este, escreveu

"É bem que viva nos escritos de um discípulo grato" 

Anos depois transfere-se para Portugal, formando-se em Leis pela Universidade de Coimbra em 1783. Durante os anos de Coimbra perde o avô em 1777 e a mãe em 1781. (4)


A universidade de Coimbra, no século XVIII. 

Casamento: 

Voltando para o Brasil, casou-se em Mariana-MG no dia 23 de Novembro de 1785 com D. Maria do Carmo Barradas. Dentro as testemunhas estava o inconfidente desembargador Tomás Antônio Gonzaga, Dr. Francisco Monteiro (Intendente e Ouvidor de Vila Rica e Dr. Inácio Rabelo (Juiz de Fora de Mariana).  

A esposa do Dr. Diogo era filha do Dr. João de Souza Barradas (1735-1820), o primeiro natural de Minas formado em Direito na universidade e casado em Verride com D. Jacintha Maria da Fonseca Tavares e Silva (-1813). 

Diogo e a esposa transferem-se para Vila Rica, morando na Rua São José, em frente à Casa dos Contos. (3)

Em seu casamento, Dr. Diogo teve onze filhos: (1)

Filhos: 

- Maria do Carmo Pereira de Vasconcelos (1787-1849)

- Jerônimo Pereira de Vasconcelos (1788-1875) General do Exército Português, Ministro de Guerra, Par do Reino, Conselheiro de Estado, Visconde de Ponte da Barca (devido à vitória nesta localidade, ao lado de  D. Pedro IV). 


Jerônimo Vasconcelos. 


- Ana Rosa Pereira de Vasconcelos (1790-1844)

- Diogo Pereira de Vasconcelos (1791-1824), seguiu carreira no comércio. 

- Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850) Senador do Império, Conselheiro de Estado. considerado, de modo quase unânime, a personalidade política mais importante do período imperial, o verdadeiro construtor e idealizador do Império. 


Bernardo Vasconcelos. 


- Fernando Antônio Pereira de Vasconcelos (1796-1851) Diplomado em Ciências Naturais na Holanda, fundou o Jardim Botânico de Ouro Preto, e introdutor da cultura do chá, da canela, do cravo e outras espécies úteis bem como da criação das abelhas e do bicho‑da-seda. 

- Jacinta Carolina Pereira de Vasconcelos (1798-1864)

- Joana Jacinta Pereira de Vasconcelos (1801-1847)

- Dioguina Maria Pereira de Vasconcelos (1806-1896). Segundo o bisneto do Dr. Diogo, ela teria nascido no Quartel Geral do Indaiá. 

- João Diogo Pereira de Vasconcelos (1809-1879), sacerdote. 

- Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos (1812-1863) Presidente da Província de Minas Gerais, foi Magistrado, Senador do Império, Ministro e Conselheiro de Estado. 


Francisco Diogo Vasconcelos. 


Todos os seus filhos tiveram acesso a uma educação esmerada. O Dr. Diogo é também bisavô de Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcellos (1843-1927), mais conhecido como Diogo de Vasconcellos, o "um dos fundadores historiografia mineira",  que escreveu importante obra sobre a história de Minas Gerais, como a História Antiga de Minas Gerais (em 2 volumes) e História Média de Minas Gerais, sendo considerado um dos precursores do Arquivo Público Mineiro (APM),  Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), assim como a Academia Mineira de Letras (AML). (3)

Cargos públicos e vida em Vila Rica: 

Na capital da província, teve uma grande rede de influência e galgou cargos na vida pública, em parte devido a ser um reinol, e também por ter estudado Leis e ter grande habilidade com a escrita. 

Exerceu os seguintes cargos ao longo de sua vida pública: 

Vereador

Procurador da Fazenda

Tesoureiro vitalício da intendencia de Ouro Preto 

Caixa da Extração dos serviços de Indaiá e Abaeté (nomeado em 27/06/1807,permanecendo até o fim da extração em 13/10/1808). 

Juiz Criminal de São José no Rio Pretos, até sua morte. 

Relação com a Inconfidência Mineira: 

Em Vila Rica, era muito relacionado com o desembargador Tomás de Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, sendo considerado por alguns autores como "amigos íntimos". Por ocasião da prisão destes inconfidentes, foi convocado em 1789 para depor na devassa instaurada pelo Visconde de Barbacena. Esteve preso por cinco dias, de 24 a 29 de maio de 1789. Em seu depoimento, afirmou desconhecer qualquer tipo de rebelião e sobre Tiradentes afirma que o alferes estaria: 

"espalhando umas parvoíces, dizendo que queria fazer uma república" (3)

Também, na devassa do Rio de Janeiro, depôs, não tendo delatado ou comprometido a ninguém. Pareceram verídicas ao juiz da devassa as negativas do Dr. Diogo de Vasconcelos e o certo é que prontamente foi solto.

Findada as condenações da Conjuração Mineira, como primeiro vereador de Vila Rica,  o Dr. Diogo proferiu discurso pelo "feliz sucesso de achar desvanecida a pretendida conjuração nesta capitania",  no dia 22/05/1792, na matriz do Pilar. (3)

Foi criticado pro historiadores posteriores, uma vez que era sabido que o Dr. Diogo era amigo fraternal de Cláudio Manoel da Costa, e apesar disso o exclui de sua lista de "Mineiros Iustres". Após a condenação da Conjuração Mineira, Cláudio, o poeta, foi declarado infame, e uma justificativa plausível é que o Dr. Diogo, respeitando a lei, não fez memória a nenhum declarado com aquele adjetivo, mesmo tendo citado outros inconfidentes ilustres em sua lista. 

A Nova Lorena Diamantina: 

A Lorena Diamantina, assim denominada por José Vieira Couto, naturalista, foi uma divisão militar e política que visava proteger os rios diamantinos no Oeste Mineiro, após denúncias robustas de suas riquezas no final século XVIII, sendo a principal aquela feita pelo garimpeiro Isidoro Amorim. Após algumas expedições na época do Governador Bernardo Lorena, a extração diamantina só foi realizada de maneira efetiva, com grande investimento, pelo governardor Pedro Xavier Ataíde. Sendo para isso, feita a nomeação em 27/06/1807, do Dr. Diogo como Caixa da Real Extração. Neste cargo, teve a incumbência de instalar o Quartel Geral, levantar rancharias, construir roças, picadas, e instalar máquinas que deveriam entrar em ação na seca de 1808. Na superintendêncao destacamento de Cavalaria, estava o Major José de Deus Lopes, que era cunhado do genro do Dr. Diogo, e possuía uma fazenda nas cercanias do atual Município de Cedro do Abaeté. Com sua chegada, que completam 215 anos no próximo dia 04/09, rezou Missa em altar armado à frente do Quartel, e após a liturgia entoou o "Te Deum Laudamus". Enquanto administrador, levantou rancharias, plantou roças de milho e feijão, mandou que se descortinasem os rios (sendo a principal próxima ao Quartel do Assumpsão, nas cercanias do atual municipio de Tiros-MG), providenciou dois jogos de pedras de moinho nos rios, equipou a tropa, tratou da escravatura, colocou fábricas de carpintaria, ferrarias, abriu mais de 20 léguas de estradas, que levavam aos principais sítios de mineração, a saber Cachoeira Mansa no Rio Abaeté, braço norte do Abaeté (Rio Areado), Cachoeira Seca e Porto dos Pintores, no Rio Indaiá. Apesar da fidelidade com seus compromissos, a extração não deu lucros para a Coroa, durante somente até o início de 1809, culminando com o retorno do Dr. Diogo à Vila Rica. (5)

Em sua homenagem, quando da elevação do povoado de Cedro do Abaeté à vila, em 1951, a terceira rua paralela à principal, em direção ao poente, foi denominada "Diogo Vasconcelos". Com a emancipação, chama-se atualmente de Rua João Rodrigues dos Santos (um dos primeiros moradores do Cedro). (7)

Obras:
 
- "Minas e Quintos do Ouro"

- "Canto ao llmo. e Exmo. Snr. Pedro Xavier de Athaide e Mello, governador e capitão general da capitania". Esta importante obra pode ter sido a primeira publicada em Minas Gerais. C
ompõem-se de oitavas heterorrítmicas, esquema fixo de rimas, de estrutura uniforme.Impresso pelo Padre José Joaquim Viegas de Menezes, em Vila Rica, 1806

- Breve Descrição Física, Política e Geográfica da Capitania de Minas Gerais, 1807. 



Gravura do governardor Pedro Ataíde e sua esposa, que decora a obra do Dr. Diogo. 


Religião: 

Católico, Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, de Portugal. 

Posição Política: 

Era adepto confesso do absolutismo, do governismo e do colonialismo. 
 
O discurso na ocasião em que se expunha à execração pública, na praça central da cidade, a cabeça de Tiradentes – um mês após o seu suplício, exalta o o absolutismo reinante e elogia a medida punitiva que recebeu o mártir da Inconfidência Mineira. Nas festas que marcaram o infausto acontecimento e realizadas por determinação real, protestou fidelidade e obediência ao Rei e ao Governador da Capitania, dando publicamente provas de submissão e inocência no discurso assistido por todas as camadas representativas da sociedade: o General, o Bispo a nobreza e o povo de Vila Rica. (2)


Ah! Brazileiros, aqui esmoreço, d'aqui não posso proseguir avante quando me lembro que, sendo um castigo em si terrivel, ainda é pequeno para expiar tão atroz delicto!" (3)

Em defesa de sua posição política, seu bisneto Diogo L. A. Pereira de Vasconcelos, publicou o seguinte trecho: 

"(..) não era um demolidor! Português de nascimento, magistrado em exercicio, tinha também seu pais ainda vivos e dois irmãos bem colocados em Portugal. Porque cargas d' água quereriam que não amasse a sua pátria e não estimasse o malogro de uma conspiração que projetava desmambrá-la, separando de seu império a mais bela e rica das províncias?"

Morte: 

Faleceu no Rio de Janeiro a 19 de Setembro de 1812 aos 52 anos, no cargo de J
uiz Criminal de São José no Rio Pretos

Legado: 

Embora a extração diamantina do Abaeté não tenha sido rentável, a chegada do numeroso pessoal exigiu e tornou importantes as atividades rurais nesta zona ainda pouco povoada. Novas fazendas foram surgindo, com o desmembramento de primitivas sesmarias, soldados foram se estabelecedo na região, formando uma parcela do contigente populacional que vemos hoje.


Fontes: 

1 - Revista do APM, ano de 1896, Ano I, Fasc. 3, p. 405

2 - UMA RARIDADE BIBLIOGRÁFICA: O Canto Encomiástico de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos impresso pelo Padre José Joaquim Viegas de Menezes, em Vila Rica, 1806. _ Ed. Fac-similar com Estudo Histórico Biobibliográfico / de Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional ; São Paulo : Gráfica Brasileira, 1986. 69 p. : ret. 21 cm. 

3- O inteiro teor deste discurso encontra-se publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro; Ano I; Fasc. 3 - julho a setembro de 1896; Imprensa Oficial de Minas Gerais; Ouro Preto - pags. 401 a 411

4-  NOTAS GENEALOGICAS, VASCONCELLOS, DIOGO L. A . P. DE, 1902. 

5 - hiSTÓRIA DE ABAETÉ. dR. jOSÉ DE oLIVEIRA. 

6 - HISTORIA MEDIA DE MINAS GERAIS, VASCONCELLOS, DIOGO L. A . 1917

7 - Lei numero 151, dá denominações às ruas de cedro do abaeté. 

8 - Dona Joaquina do Pompéu : sua gente / Deusdedit P. Ribeiro de Campos.


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