HISTÓRICO DO GARIMPO DE DIAMANTES NO OESTE DE MINAS - PARTE II - 1800 A 1809 "A REAL EXTRAÇÃO DIAMANTINA"
Parte II
A ampliação do Quartel Geral do Indaiá
Animado pelas noticias do relatório do Dr. Couto e a fim de desacreditar a administração do Tijuco, que não tinha feito boa exploração anos anteriores, o governador iniciou a cargo da junta de Vila Rica, a autorização da mineração no Abaeté e Indaiá. Por ordem do Governador, iniciou-se a ampliação do Quartel Geral do Indaiá, em 19 de Dezembro de 1801. Foram instaladas ali as casas da contadoria da real extração diamantina da Lorena. A exploração porém, demorou a começar. A partir de 1803 o governador da capitania de Minas Gerais foi Pedro Xavier de Ataíde e Melo, que também se interessou pela Nova Lorena. Finalmente, em 15 de novembro de 1806, foi nomeado o caixa da administração o notável português Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos. O cargo de caixa correspondia ao de um diretor: todos os outros funcionários eram subordinados a ele. Para servir com ele foram nomeados também:
1- Caetano Miguel da Costa como caixa administrador da Real extração. Veio do Tijuco.
2- José da Silva de Oliveira Rolim (irmão do inconfidente Padre Rolim). Veio do Tijuco.
3- Manuel Gomes Batista e seu filho Antônio Gomes Batista, premiados pela descoberta do Diamante do Abaeté. Serviram como práticos.
4- Mateus Alberto de Souza Oliveira e Castro, escrivão da caixa e diamantes.
4- Francisco José Teixeira Chaves, ajudante de escrivão.
5- José Marcelino da Silva, almoxarife.
6- Antônio Jose Viegas de Meneses, ajudante de cirurgião.
7- Alferes João Carlos da Rocha Brandão - chefe do destacamento militar para guarecer o Quartel.
8- José Vieira Couto, médico e naturalista enviado para acessorar Dr. Diogo durante 1 mês.
9- José de Deus Lopes, comandante superintendente dos serviços gerais "oficial ativo e inteligente destes sítios" por estar ali por mais de 15 anos.
A nomeação de Diogo ocorreu no dia 27 de junho de 1807 com instruções de se instalar o Quartel, levantar rancharias, construir roças e máquinas que deveriam entrar em funcionamento já na seca de 1808. O que havia no Quartel Geral antes disso era pequeno, e havia sido fundado quando da primeira extração em 1791. Quando essa extração voltou ao Tejuco ficou ali um diminuto destacamento militar em volta do qual se juntou um pequeno povoado. Um construtor vindo de Pitangui reformou o quartel, segundo o livro do Dr. Pessoa.
Chegada no Quartel:
A chegada de Diogo Pereira ao Quartel Geral, em 04 de Setembro de 1807 foi muito celebrada. O vigário vindo de Dores rezou a Santa Missa em um altar armado à frente do Quartel e, após a liturgia, entoou o "Te Deum Laudamus"* pela prosperidade da nova Extração.
Dr. Diogo anda proferiu um animado discurso:
"Com que glória a posteridade falará de nós, primeiros, através de males que apresentam inóspitos climas, surdos aos berros das onças e do tigre, que nos cercam e ameaçam, caminhando sobre o cascavel e mais répteis peçonhentos (..) que tapizam sertões ásperos e incultos, sem medo finalmente aos perigos, demandamenos as riquezas que nestes se encerram a prol de tão Alto e adorável Príncipe".
Neste mesmo dia, o comandante do destacamento colocou sua tropa a frente do quartel e após o "Te Deum" fez apresentar as armas, com a qual o Dr. Diogo disse falas para animar as tropas. A soldadesca, no final deu entre vivas a sua alteza e à toda a real familia três descargas de costume.
Logo após houve um jantar aos administradores dos serviços e oficiais da tropa de linha, além de convidados. Depois que os soldados jantaram eles, com entusiamo despejaram seus copos dando vivas à sua alteza real. Diogo relata que chorou ao ver esta cenas "não pude presenciar a boa vontade e fé desta gente sem correntes de lágrimas" que se deram no dia da natividade de Nossa Senhora, 08 de setembro de 1807.
Quando chegou a noite, o quartel se iluminou e o administrador Caetano Miguel da Costa fez conduzir, acompanhado de três flautas, uma àrvore iluminada com letras escritas " viva o príncipe regente nosso senhor".
O quartel ficava de frente para o Cofre, a Escrituração e para a morada de Diogo. Sobre esta disse: "não há largueza, mas cabemos". Pediu ainda que o governador mandasse algumas vidraças por ser o lugar "tão desabrido que nos pouco dias que o habito tem sido precisa passar parte deles a janelas fechadas".
Os trabalhos feitos por Dr. Diogo
Foram muitos, ele mesmo conta em suas memórias que equipou a tropa, levantou ranchos, plantou roças de milho e feijão, abriu mais de 20 léguas de estradas, construiu um armazém rebocado e coberto de telhas" que custou menos de 30$000 réis à real fazenda, além de ter providenciado 02 jogos de pedras para moinhos nos rios.
Diogo mandou extrair cascalhos em toda a extensão dos rios, onde pudesse alcançar durante toda a estação seca. Após as águas, levaram as rodas e máquinas para lavar o cascalho. Manuel gomes disse-lhe que um ribeiro da parte norte que faz barra no abaeté seja todo diamantino.
O trabalho no Abaeté.
O administrador do serviço do rio Abaeté era José Nunes de Carvalho, de longa experiência na extração dos diamantes. O Rio foi cercado na região da Praia Bonita (ou Cachoeira Bonita ou Cachoeira Mansa), sem grandes resultados neste local. Porém, os socavões feitos em outros locais do Rio tiveram ótimo resultado.
O trabalho no Indaiá.
O administrador do serviço do Indaiá era capitão Antônio José Alves Pereira. Ambos tinham de 30 a 40 anos de experiência no Tijuco. Relata ter feito serviços, cercando o rio em 2 locais. O primeiro na paragem chamada "dos Pintores" e duas léguas acima da Cachoeira Seca, com extração de muitos cascalhos a serem lavados. Relata que os diamantes ocorrem "em manchas" ao longo do rio e que necessita de 80 negros para cada tropa de exploração.
Refere também que no Rio Areado concluiu uma picada até a sua barra e mais três léguas acima, depois de meados de setembro, fazendo três buracos pequenos onde empregou 09 negros a tirar cascalhos por quatro dias e mais doze dias lavando resultando em um pequeno diamante.
Um só diamante de 03 oitavas, encontrado nos Pintores foi suficiente para pagar todas as despesas gastas.
É interessante notar que ao sinal de trovoadas, o serviço era interrompido devido a ameaça de enchentes dos rios.
A questão dos trabalhadores tejucanos
A administração do Tijuco foi muito criticada por Diogo. O próprio governador acusava Miguel de desobediência. Muito dos escravizados enviados do Tijuco eram compostos por negros forros insubordinados e até suspeitos. Bem como feitores boçais tirados de tavernas e oficios mecânicos também suspeitos. Queixava-se de haver crianças, velhos e meio cegos no serviço. Diz-se que os tijucanos tinham medo do serviço render e eles terem que ficar muitos anos distante dos seus lares.
O fim da extração
A extração teve vida curta: 16 meses. O saldo total foi de 22 e 2 oitavas e 6 vinténs de diamante, enviados para Vila Rica com Antônio José Alves Pereira (totalizando 695 diamantes) Foram 243 negros trabalhando em abertura de estradas, custeio de tropas de bestas, roças e provisão. Diogo foi o percursos de tantos arraias às beiras do Indaiá.
Em 22 de janeiro de 1808 é dada ordem de cessar os trabalhos. Em vista a réplica do Dr Diogo ainda se conseguiu prolongar os trabalhos, porém uma ordem definitiva foi dada em 13 de Outubro de 1808, permitindo apenas que se lavasse o cascalho até então retirado.
Em documento assinado, os intendentes referiram não se lembrar de um lugar com diamantes tão grossos quanto os do Indaiá e Abaeté e ainda acrescentam ser estes dois rios " o mais rico patrimônio do mesmo Augusto Senhor da Capitania".
Cessada esta extração, os garimpeiros clandestinos voltaram a agir com liberdade. Em carta de 1823, o comandante do Quartel Geral do Indaiá informava que não tinha meios de impedir o extravio de diamantes uma vez que com seu pequeno contingente havia mais de 300 pessoas entrando de todo o jeito, por picadas e canoas.
As cavalhadas do quartel geral do Indaiá eram soltas no local denominado "Pasto do Rei", atualmente uma fazenda no município de Cedro do Abaeté que ainda conserva este nome;
Fonte:
1- http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/brtdocs/photo.php?lid=60017
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