FRANCISCA INÊS DE JESUS (1880-1973) E A FAMÍLIA MARTINS - SÉRIE "FUNDADORES DO CEDRO".


                  

Francisca Inês de Jesus (1880-1973) e seus filhos Adolfo (1911-1958), Aníbal (1914-1982) e Geraldo Martins. Não está na foto José Martins - Lô- (1905-1957). 

Vinda para o Cedro

Francisca Inês de Jesus (Inhá Chica) viveu em Carrancas, sul de Minas Gerais onde se casou com Teófilo Martins. O casal teve quatro filhos (José [Lô], Adolfo, Aníbal e Geraldo) até que Inês ficara viúva. Em 1925, diante da dificuldade de criar uma família nessas condições, ela se muda para os sertões do Indaiá por influência de sua prima Anna Josephina, esposa do Coronel Francisco Guimarães, que a pouco havia se instalado  na localidade, vindos de Belo Horizonte.

Formação da cidade

Na vila de Cedro, ainda em formação, seus filhos cresceram. No rincão, pleno em matas virgens a serem descortinadas e terras devolutas, os quatro se dispuseram a transformar a paisagem. Formaram fazendas, destocaram matas e construíram casas. Tornaram-se fazendeiros, agricultores e aprenderam o ofício centenário praticado no Indaiá: o garimpo. Carrancas, foi fundada por bandeirantes paulistas ao longo do trajeto do caminho velho, de alguma forma, Inês e os filhos reproduziriam a mesma veia colonizadora de seus antepassados. 


Adolfo Martins, em uma curiosa fotografia segurando sua espingarda. José Alves Moisinho "Zé Raso" relata que esta foto foi tirada porque Adolfo teria abatido uma onça que circulava pelo Cedro na década de 1950.

Aníbal Martins

Quando a família saiu de Carrancas, Aníbal tinha apenas onze anos de idade. Virou adulto na vila do Cedro e foi se tornando um grande fazendeiro, por meio de compra de terras e também como posseiro. Sua fazenda tinha por nome “Comum de Santana - Capão Drumond"*. Ali construiu uma casa (que até recentemente ainda se via os esteios) e criava gado, além de plantar café, milho, arroz, feijão e cana de açúcar, contando com a colaboração de muitos “agregados”. O local era chamado popularmente de "Drumão" e chegou a ser um pequeno povoado a poucos quilômetros de Cedro. Neste lugar, Inês Francisca passou seus últimos anos. Ela é frequentemente lembrada por sua habilidade no crochê de linha de carretel.  



Fazenda "Capão Drumond" em 1970. Destacada ao centro. Mapa do IBGE. 


Antigas rodas de moagem, encontradas em uma fazenda que foi propriedade da família Martins, vestígios da produção açucareira em Cedro do Abaeté. 

Casamento e descendência

Aníbal Martins casou-se com Maria Ferreira da Silva, e com ela teve 3 filhos: Hamilton Martins, Eni Martins e Neli Martins. 



Inhá Chica, sua nora Maria Ferreira, a menina ao lado é Vitória, criada por ela. Os pequenos são os filhos de Aníbal: Hamilton e Eni.  

O Garimpo de diamantes: 

Na seca (período de estiagem do ano) Aníbal mudava-se para um trecho do rio Indaiá conhecido como “Ilha Grande e Mariquinha”, que passava no fundo de suas terras e ia garimpar, atividade que mais gostava. Montava grandes ranchos para turmas de até trinta garimpeiros. Os ranchos eram construções primitivas utilizando técnicas antiquíssimas de barro, madeira e sapê. O rio era cercado com troncos e terra, nos chamados chiqueiros. Com o leito exposto, o cascalho era retirado e depois lavado. Do garimpo, recuperou muitos diamantes e estes eram vendidos por ele pessoalmente no Rio de Janeiro. Foram tantos que ainda existem lendas de "litros" dos brilhantes que Aníbal teria deixado enterrado em algum local.


Garimpeiro em rancho, no rio Indaiá. Acervo Ronaldo Guimarães. 







"Chiqueiro" ao fundo, represando o rio com um emaranhado de troncos e terra. Notar a canoa de vários metros de comprimento. Rio Indaiá, acervo de Ronaldo Guimarães. 

A prisão

Quando seu filho Hamilton tinha apenas dois anos de idade, Aníbal cometeu um crime, sendo julgado e condenado a onze anos de prisão, a serem cumpridos na penitenciária de Ribeirão das Neves-MG.

Na prisão, foi alfabetizado por um companheiro de cela, que utilizava o jornal do qual era assinante para dar as lições. Durante a reclusão, seu irmão Adolfo Martins foi assasinado na vila de Cedro, em plena avenida principal, enquanto dirigia seu jipe 51. Adolfo administrava as terras na ausência do irmão, e com sua morte os terrenos foram invadidos, juntamente com a área de garimpo, grande produtora de riquezas. Esse episódio demonstra a violência aplicada nos litígios por terras na época. 

Após cumprir nove anos de prisão, Aníbal saiu em regime de condicional por bom comportamento e voltou para suas terras. Com ajuda de um promotor de justiça de Abaeté, conseguiu retomar suas propriedades, bem como o garimpo. 

Falecimento 

Viveu até os 65 anos em Cedro, quando foi assassinado em uma emboscada na estrada para o Rio Indaiá, que ele frequentemente percorria a cavalo. O crime foi motivado por questões fundiárias.
                                                    

Aníbal Martins e seu filho, Hamilton. 

Legado

Seu filho, Hamilton Martins herdou a paixão do pai pelo garimpo, e veio a recuperar valiosos diamantes, atividade que exerceu por praticamente 40 anos. Ele teve papel importante no desenvolvimento da atividade no Cedro, o que será melhor explicado em outra postagem deste blog, intitulada "História do Garimpo no Rio Indaiá". 


Estrada para o Rio Indaiá, 2021. Fotografia de

"Paisagens Do Indaiá". 



Fontes: 

1- Maria Lúcia, esposa de Hamilton Martins, de quem tive a honra de ser aluno no ensino fundamental. 

2- IBGE

* Meu avô, Sebastião Borges, foi carreiro de boi e fez a mudança de muitas pessoas que saíam do "Drumão".

Comentários

Postagens mais visitadas