
Walter e seus filhos. Na frente, Polly. O menor é Antônio Amado "Valtinho". Ao lado, Magna (que trabalhava com ele na Farmácia) e Eustáquio. Estão em Cedro, na casa onde residia antes o Sr. Vicente Moura e foi a primeira farmácia de Walter na localidade.
Origens:
Walter de Paula Moreira nasceu no dia 16 de setembro de 1907 em Itabirito, Minas Gerais. Filho de Francisco de Paula Moreira (Chico Ourives) e Policena Pires de Andrade.
A situação da saúde:
Na vila do Cedro, a maior parte das casas eram de pau a pique, cobertas de sapê, e as poucas ruas que haviam eram de terra. Entre as moléstias, predominavam as doenças infectocontagiosas como hepatites, afecções dermatológicas, doença diarreica aguda, infecções do trato geniturinário etc. Na linguagem da época eram comuns o 'rachitismo', 'anemia', 'amarelão', 'tosses', 'bronchites', 'corrimentos uterinos' etc. A malária estava em fase de erradicação na região, pelos órgãos federais.
Não havia nenhum sistema de previdência e a assistência social era nobremente feita pela sociedade de São Vicente de Paulo. Quanto às necessidades de tratamento médico o povo se virava como podia. Chás, ervas, entrecascas. Era a medicina do sertão. As parteiras cuidavam da arte obstétrica e os benzedeiros utilizavam da oração de intercessão pedindo a Deus a cura. Porém, como ensina a teologia escolástica, "a Graça não prescinde da Natureza”. Por isso, para vários casos era necessário lançar mão de antibióticos, analgésicos, talas, drenagem de abcessos e curativos. Esta carência só poderia ser amenizada com a presença da ciência farmacêutica. Os fazendeiros que disponibilizavam de mais recursos econômicos iam até Abaeté e adquiriam as soluções e medicamentos no comércio.
O hospital mais próximo era a Santa Casa de Abaeté, também sustentada pela caridade das pessoas, especialmente dos Vicentinos.
Anúncio farmacêutico da Casa Defeo vinculado no jornal " O Abaeté", em junho de 1949.
Chegada ao Cedro:
A partir de meados da década de 50, após ter passado pelo Quartel Geral e Quartel de São João, o farmacêutico autodidata Walter chega na então vila do Cedro. Outras farmácias já haviam existido ali como a de Miguel Beltrão (falecido em 1947) e a de Vicente Moura. Mas seria Walter quem mais passaria tempo no ofício naquela localidade. Walter era casado com Maria de Araújo, filha do senhor João Ferreira de Figueiredo (João Barba) e de Cândida Rodrigues de Araújo.
O talento semiológico:
Semiologia é a arte do exame físico, do estudo dos sinais e sintomas das doenças. É muito comum ouvir dos mais idosos que o sr. Walter fazia um cuidadoso exame físico, que envolvia ectoscopia e palpação dos pulsos. Consequentemente fazia diagnósticos acertados. Curava "ínguas", "crupes", febres, desidratações graves. Realizava também pequenas cirurgias. Pode se afirmar então que ele exerceu a medicina naquele local.
Aspectos da farmácia:
Em sua farmácia podia-se notar a infinidade de frascos, o almofariz, despertando a curiosidade das crianças e também de adultos.
Pelas memórias de sua filha Polly:
"Pequenos frascos, pequeninos pesos, balanças, tigelinhas, cálices com poções miraculosas, cheiros de coisas que nunca conheci senão pelo olhar cheio de curiosidade e encantamento e pelo odor daquilo que devolvia a vida e curava". (1)
Modelo de seringa usada em meados do século XX. A agulha causava pavor em adultos e crianças.
Casa ou farmácia?
A primeira farmácia ficava na casa em que vivia na avenida Coronel Francisco Guimarães, que felizmente ainda está de pé. As memórias de sua filha descrevem a rotina de um lar onde era difícil separar a vida privada do ofício de farmacêutico:
"cresci em contato com as batidas na porta vendo as pessoas o chamarem nas madrugadas frias, angustiadas pelas enfermidades, com o cavalo já arriado para levá-lo até um um ermo onde um parente estava mal ou até agonizante". (1)
Ser o representante da saúde em um local tão carente, assemelhava-se a um sacerdócio.
"Farmácia cheia de gente "remediada" ou, quase sempre gente pobre, camponeses ou garimpeiros, pouco importava pois ninguém que o procurava saía de lá sem seu "remedinho", sua "poção", seu unguento e muita esperança no peito! Tivesse dinheiro, não tivesse dinheiro, pagando com olhos marejados, às vezes com uma banda de porco no natal, uma galinha cacarejante, algumas dúzias de ovos caipira, pencas de bananas de quintal, quitandas fresquinhas, verduras e qualquer fruta...todos eles, gratos e reverentes, tiravam o chapéu para cumprimentar meu pai, aquele homem que os "curava" e, a muitos, devolvia a vida... "Seu Valter farmacêutico"... figura controversa e mítica!" (1).
Walter de Paula Moreira - provavelmente na década de 50.
Descendência:
Casou-se por 2 vezes, tendo um total de 17 filhos. Foi casado em primeiras núpcias com Maria de Araújo (Lilica) e nessa união tiveram 11 filhos. Foi casado em segundas núpcias com Adélia Lacerda e dessa segunda união tiveram 4 filhos.
Filhos de Walter nos anos 50 em Cedro. Da esquerda para a direita: Eustáquio, Jesus, Auracelia, Maria Antônia, Alvarita, Cândida, Jesuína (Zita), Magna e Polly. Alvarita era esposa de Afonso Lopes. Cândida se casou com José Alves (Afaiate). Jesuína casou-se com Tonico (Alfaiate). Não estão na foto: Zezé e Antônio Amado.
Walter em Cedro do Abaeté.
Falecimento:
Faleceu em Belo Horizonte, no dia 13 de março de 1980. O legado de Walter em Cedro é o de muitos agradecimentos pelas suas curas e atenção ao sofrimento alheio nos 20 anos em que trabalhou na cidade. Cumpriu fielmente o aforismo hipocrático "curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar sempre".
Casa da década de 40, onde funcionou a primeira farmácia de Walter na cidade. Importante patrimônio da arquitetura cedrense.
Fontes:
(1) - Texto de Polly Moreira, psicóloga e psicanalista.
(2) - Fotos do grupo "História de Cedro do Abaeté" e também de familiares.
(3) - Relatos de moradores.
Sr. Valter, gratidão de todos os cedrenses
ResponderExcluirMeu querido avô pai mae Auracelia de Paula Moreira..
ResponderExcluirTio e Padrinho Walter, meus agradecimentos pelas muitas vezes que ia em nossa casa no Corrégo Fundo, fazia uma avaliação da saúde de toda família e medicava todos nós.
ResponderExcluirGratidão!