JOSÉ GONÇALVES FILHO - PIONEIRO DA CIDADE - SÉRIE "FUNDADORES DO CEDRO".

José Gonçalves Filho (1897-1985), conhecido no Cedro por José Flávio. Nasceu em 23 de novembro de 1897 na cidade de Bom Sucesso-MG. Seu pai foi o sr. José Gonçalves Chaves.  

Casamento: 

Conheceu sua esposa, Maria Augusta da Silva (conhecida por Sá Lia) em Dores do Indaiá. Lá se casaram. 

José Gonçalves e Maria Augusta. 

A mudança para a região serrana de Abaeté

Em 1933 aproximadamente, se mudaram para a região serrana de Abaeté, entre o Pedra Menina e o Capacete, ali nas cabeceiras do Caretinha e dos Três Córregos, onde viria a ser o Cedro. 

O casal foi buscar novos ares por recomendação médica em função de problemas de saúde da esposa. 

Mapa da região em 1922. Note que o caminho que passava onde hoje é o Cedro e ligava Abaeté a Tiros não era carroçável, ou seja, não era uma estrada, mas apenas um trilho. A região onde hoje está Cedro está marcada de Vermelho. 

A "venda" do Zé Flávio

De espírito empreendedor, José Gonçalves viu potencial naquele sertão. Havia um movimento considerável de carros de boi e empregados saindo e entrando nas lavouras, ligando Tiros a Abaeté e escoando a produção das fazendas locais como a Santa Clara e a fazenda Careta. Os principais gêneros de cultura na época eram o milho, o feijão e o fumo. Já haviam algumas casinhas de sapê aqui e ali, fora de rua, uma vez que somente existiam os trilhos da boiada e dos carros de boi. A paisagem das fazendas contrastava com as áreas de mata que ainda não haviam sido descortinadas. 

Com a população local crescendo e pelo fato das cidades próximas estarem a consideráveis léguas de distância, ele notou uma demanda crescente por mantimentos. Sendo assim, construiu sua primeira loja, popularmente chamada de "venda", que vendia gêneros alimentícios onde hoje é o cartório da cidade (foi a casa do Zuca e atualmente pertence a Heloísa Brito). Os produtos eram transportados em carros de boi,  vindos de  Dores do Indaiá. 

Segundo o cedrense Zé do Joãozinho, este primeiro comércio (também chamado currutela pelos antigos) tinha um baldrame que era "picado de bala de carabina". Muitos andavam armados na época e os tiros eram comuns, seja por diversão ou mesmo em duelos. 

O povo foi vendo a prosperidade do local, e construindo as casas ao redor da venda do Zé Flávio, de forma a constituir a atual avenida Cel. Francisco Guimarães, antigamente chamada apenas de "Avenida". Esta rua foi aberta manualmente com o uso de enxadecos pelos próprios habitantes. 

 

Anos depois, José Gonçalves decidiu expandir o empreendimento e construiu uma casa com uma loja anexa na esquina da Avenida com a atual rua Nossa Senhora Aparecida. Ali comercializava mantimentos; ferramentas; artigos para casa, tecidos e até brinquedos.

Teve também uma pequena fazenda na região do córrego do Careta, que foi vendida para o Sr. Zuca. 

Homem culto, gostava de atualizar-se dos assuntos do Brasil e do mundo lendo os jornais. Sua neta Lêda conta que ele pagava um homem com apelido de Toureiro* para ir a cavalo buscar o jornal em Abaeté, pelo menos uma vez por semana.

 

Assinantes do jornal "Abaeté - Semanário Independente" em 1943. José Gonçalves aparece como o único assinante do Cedro. 

Pioneirismo

José Flávio construiu a primeira casa do Cedro, abriu a primeira rua. Católico praticante, ajudou a construir a primeira Igreja. Também foi presidente da câmara em 1966. 

As missas antes da construção da matriz eram realizadas embaixo das árvores e posteriormente eram feitas na casa de Francisco Guimarães, onde hoje é a praça de esportes. Muitas vezes o senhor José Flávio trazia o padre à cavalo, vindo de Abaeté e hospedava-o em sua casa. Os padres eram frades franciscanos como Frei Mário Cornelissen, que faleceu com fama de santidade.

Foto de satélite da cidade. Em vermelho, o local da primeira casa do Cedro. Em azul, o local do segundo empreendimento de José Gonçalves. A rua José Gonçalves Chaves, na cidade, leva o nome de seu pai. 

Educação: 

Ele trouxe de Dores a Sra. Quilda, sua cunhada, para ser a primeira professora na escola que ele ajudou a levantar, fundada em 1936. A escola era uma singela construção de madeira e ficava onde hoje é a casa de Marta Soares, de frente para o supermercado do senhor Antônio Ribeiro (Tôe Tunico). 

Mudança para Belo Horizonte:

Devido a idade avançada, seu filho Crispim construiu em sua casa um anexo para receber os pais, na capital mineira. Ao se mudarem do Cedro, a venda foi vendida para o Zezé do Cravo. 

                                                                                               

O casal em Cedro do Abaeté. 

José Gonçalves no centro da foto, aos 90 anos. Do lado esquerdo seu filho Crispim. 

Descendência: 

Zé Flávio e a esposa tiveram dois filhos: 

-José Gonçalves Silva.

-Crispim Gonçalves Silva. 

Falecimento: 

Faleceu aos 90 anos, em Belo Horizonte, no ano de 1985, vítima de um atropelamento. Sua esposa também faleceu aos 90 anos, em 1987. 

Legado: 

A história de José Gonçalves merece ser reconhecida pela população como a de um grande pioneiro. Seu espírito corajoso e visionário, apostou  que aquelas ermas paragens poderiam se tornar uma linda cidade, como aconteceu.